Análise de João 6.43-47
Introdução
Neste trabalho olharemos para o capítulo 6 de João e analisaremos os versos 43-47.
Reconstruiremos o cenário cultural da época para assim melhor entendermos a passagem dentro do seu locus temporal histórico e cultural. Buscaremos definir como os ouvintes receberam a mensagem, e o que a gerou naquele contexto.
Olharemos para o texto e reconstruiremos o fluxo da argumentação. Veremos como João dispos o material bíblico e observaremos a relevância dos mesmos na intenção do autor em gerar fé no coração dos seus ouvintes.
Ao analisarmos no grego o texto da perícope faremos comparações com as versões disponíveis e de facíl acesso. Mostraremos as diferenças entre elas nas palavras-chave e justificaremos a opção que adotamos neste trabalho.
Por fim, comentaremos a passagem naquilo que dentro da nossa ótica são os aspectos mais importantes. Dentro desta análise extrairemos a teologia do texto e a mensagem para todas as épocas. Compreenderemos então que João registrou esta passagem com o propósto de deixar claro para seus ouvintes que a salvação é somente por meio de Cristo com base na escolha soberana de Deus.
Estudo Contextual
Contexto Histórico da Passagem
Exitem várias propostas quanto ao
contexto do quarto evangelho[1],
pois, seu conteúdo está relacionado a diversos movimentos religiosos do
contexto da igreja primitiva[2]. A
cultura helênica era tipicamente entendida como uma combinação de quatro
influências básicas: Filo, os escritos herméticos, Gnosticismo e Mandeísmo[3]. A fim de avaliar a posição histórico-religiosa do livro é necessário perceber que João lutou contra a concepção do mito gnóstico-geral do redentor e teve seu Evangelho formado neste ambiente de gnose judaico-sincretista[4]. Entretanto, é preciso fazer uma ressalva na busca de paralelos em fontes históricas anteriores, pois, é um anacronismo procurar luz nos escritos dos mandeanos, por exemplo, a fim de esclarecer o pano de fundo do quarto Evangelho. Todavia, conforme diz Höster há uma relação bem definida com o judaísmo da época, em especial com o judaísmo da palestina, embora, não seja possível com todas as lacunas preenchidas comprovar esta influência[5].
Esta influência do judaísmo se faz perceptível no contexto desta passagem de João 6.43-47, onde no verso 31 seu auditório reporta ao evento histórico do maná no deserto, onde “nossos antepassados comeram”[6]. Quanto a esta influência Champlim diz que dificilmente existe um capítulo neste Evangelho em que não possa encontrar uma referência direta ou indireta ao Antigo Testamento[7]. Se referindo ao verso 35 o Dr. Carson diz que “o pano de fundo do Antigo Testamento para o paralelismo desse versículo pode encontrar-se em Isaías[8] 55.1 (com respeito à salvação escatológica trazida pela palavra de Deus) e em Provérbios[9] 8.5 (com respeito à sabedoria)”; e ainda acrescenta: “Alguns consideram todo este capítulo [João 6] como uma exegese judaíco-cristã do Salmo
O capítulo 6 tem um vasto ensinamento sobre Cristo como o pão da vida. Este ensino se deu por volta do tempo da páscoa, cerca de um ano antes da crucificação. As palavras que Cristo pronunciou em Cafarnaum foram ditas a pessoas que haviam o acompanhado durante anos[11]. Seguindo esta vertente o Comentário Bíblico de Broadman diz aqueles homens não procuravam a Cristo porque viam o sentido dos sinais e seu significado verdadeiro, mas porque tiveram a fome saciada um dia antes e agora voltavam novamente, pois, estavam famintos[12].
Inserindo uma perspectiva social-econômica para este discurso
Contexto Literário da Passagem
Contexto próximo
O contexto próximo é o capítulo 6. Nele João
começa dizendo que Jesus parte para a outra margem do mar da Galileia. O autor
pressupõe que as pessoas estão familiarizadas com o conteúdo do Grande
Ministério Galileu, e assim traça um paralelo entre os capítulos 5 e 6, onde no
primeiro ele mostra a rejeição de Jesus na Judeia e no segundo sua rejeição na
Galileia. Esta dupla rejeição é importante para a compreensão dos capítulos
seguintes segundo Hendrikesen[16].
Jesus está no ápice de sua popularidade[17], a multidão o segue, ele se retira com os discípulos e
então é inserido um evento histórico, contextualizando o fato e preparando as
cenas seguintes: “Estava próxima à festa judaica da Páscoa”. Darby diz que este
discurso de Cristo teve por ocasião a páscoa, pois, esta figura o que o Senhor
devia cumprir pela sua morte[18].
Logo em seguida o texto vai mostrar Jesus
realizando o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes. Após este evento é
possível perceber o anseio da população em torná-lo rei, mesmo que se
necessário fosse usar a força para isto. Na declaração do povo temos outro
marcador histórico-social-teológico importante: “certamente este é o profeta
que devia vir ao mundo” (v. 14). O profeta neste texto nos remete a esperança
do Messias de acordo com a promessa de Deus, isto é, a partir daquele lugar,
Galileia, usando a força estabeleceriam o reino teocrático enquanto marchavam
para Jerusalém onde seria a sede[19].
No verso 17 o cenário caminha para Cafarnaum.
Outro milagre é realizado – Jesus misteriosamente aparece no meio do mar e
acalma a tempestade, e a multidão no dia seguinte quando percebem sua ausência
o segue até Cafarnaum. Jesus logo após atravessar o mar em direção a Cafarnaum
Jo 6.16-22[20] estava na sinagoga conforme relatado em Jo 6.59[21]. Se referindo ao contexto desta passagem Bruce diz que
nesta ocasião, quando o texto fala dos judeus no verso 41 “deve ser a
congregação da sinagoga de Cafarnaum, ou os seus líderes”[22].
O paralelo entre Cristo e Moisés é traçado.
Quem tem mais autoridade? Cristo? Moisés? Cristo resolve o problema gerando
inquietação nos corações quando responde: o maná é perecível, eu o pão vivo
saciarei a fome para todo sempre; e quem crê em mim, os seus ouvintes ainda não
o fizeram, tem a vida eterna, e agora o motivo da inquietação dos judeus, eu o
ressuscitarei no último dia. Os judeus tinham a expectativa da ressurreição dos
mortos na vinda do Messias[24], daí então a indignação em Cristo ser o pão que desceu
do céu, o Messias, haja visto que conheciam seus pais, sua família, sendo
perceptível no verso que antecede a perícope em análise: “este não é Jesus, o
filho de José, cujo pai e mãe conhecemos? Como pode dizer: ‘desci do
céu’?”(v.42).
Contexto Remoto
A partir do capítulo 2, a narrativa de João começa a mostrar os
sinais milagrosos de Jesus, que tem o propósito de comprovar a divindade de
Jesus e levar os leitores à fé no Cristo que não é só carne (homem), mas também
Deus. Deste ponto até o fim do Evangelho, João registra milagres operados por
Jesus e seus pronunciamentos, sendo sempre destacado esse ponto central: Jesus
– o Filho de Deus; Jesus – Deus. João relata como primeiro milagre a
transformação da água em vinho, na presença de uma multidão. Aí sua fama já
começou a se espalhar. A partir daí, há registro de várias pessoas que creram
em Jesus e que foram salvas por Ele[25].
O propósito de João em seu evangelho é
exemplificado nos sinais e diálogos de Jesus, comprovando sua divindade e
atraindo as pessoas, que criam nele e eram salvas: Nicodemos (cap. 3); a mulher
samaritana (cap. 4); o paralítico de betesda (cap. 5). No capítulo 5 verso 16
os judeus passaram a perseguir a Cristo e ele é rejeitado publicamente.
No capitulo 6 o quarto sinal é realizado:
multiplicação dos pães e Cristo sobre as águas. Neste momento é importante
lembrar que os sinais apontam para a natureza de Jesus sendo discernida somente
através da fé[26]. É nesta seção que se encontra o enfático “Eu sou”,
afirmando sua divindade.
A platéia lhe pede mais um sinal. Ele se nega a fazer e
se diz maior que Moisés. Reafirma que é o pão vivo que desceu do céu e então os
judeus ficam mais nervosos ainda e lembram suas origens. Daí então, temos a
resposta de Jesus que é o texto que estudaremos.
Estrutura do texto
Tradução do texto
João 6:43-47
ἀλλήλων.
Respondeu Jesus e disse a eles. Não murrmureis entre vós mesmos.
44 οὐδεὶς δύναται ἐλθεῖν πρός με ἐὰν μὴ ὁ πατὴρ ὁ
πέμψας με ἑλκύσῃ αὐτόν, κἀγὼ ἀναστήσω αὐτὸν ἐν τῇ ἐσχάτῃ ἡμέρᾳ.
Ninguém esta podendo vir para mim se não o Pai que me enviou
atrair[28] ele, e eu
levantarei ele em o último dia.
45 ἔστιν γεγραμμένον ἐν τοῖς προφήταις·
καὶ ἔσονται πάντες διδακτοὶ θεοῦ· πᾶς ὁ ἀκούσας παρὰ τοῦ πατρὸς καὶ μαθὼν
ἔρχεται πρὸς ἐμέ.
Está escrito em os profetas: e serão todos ensinados por
Deus. Todo aquele que ouve da parte[29] do Pai e
aprende está vindo para mim.
46 οὐχ ὅτι τὸν πατέρα ἑώρακέν τις εἰ μὴ ὁ ὢν παρὰ τοῦ θεοῦ, οὗτος ἑώρακεν τὸν πατέρα.
Não que o Pai foi visto por alguém a menos o que é[30] da parte
de Deus, este conhece o Pai.
47 ἀμὴν ἀμὴν λέγω ὑμῖν, ὁ πιστεύων ἔχει
ζωὴν αἰώνιον.
Amém[31] amém estou
dizendo a vós, aquele que crê está tendo vida eterna.
Delimitação da perícope
A
passagem foi delimitada observando o desenvolvimento de uma tensão interna no
texto. O que parece é que o texto neste momento em específico usa uma estrutura
quiásmica[32].
A narrativa se desenvolve, a tensão cresce e Cristo explica o problema; logo
após se desencadeia uma reação contrária a sua resposta e as pessoas começam a
abandoná-lo.
A.
A multidão segue a Cristo para Cafarnaum (Jo 6.22-24).
B. Maná o pão do céu dado por Moisés
(Jo 6.25-33).
C. Jesus o pão da vida e
a murmuração dos judeus (Jo 6.34-42).
D. Cristo responde por que eles
não crêem (Jo 6 43-47).
C’. Jesus o pão da vida
e a disputa dos judeus (Jo 6.48-52).
B’. Jesus alimento melhor que o maná
– corpo e sangue (Jo 6.53-59).
A’. Muitos discipulos o abandonam (Jo. 6.60-66).
Divisões internas do Texto
43.
Respondeu Jesus
e disse a eles.
Não murrmureis entre vós mesmos.
44. Ninguém esta podendo vir
para mim
se não o Pai que
me enviou
atrair ele,
e eu levantarei ele
em o último dia.
45. Está escrito em os profetas:
e serão todos ensinados por Deus.
Todo aquele que ouve da parte do Pai
e aprende
está vindo para mim.
46. Não que o Pai
foi visto por alguém
a menos o que é da parte de Deus,
este conhece o Pai.
47. Amém Amém
estou dizendo a vós,
aquele que crê
está tendo vida eterna.
Comentários
- A razão da resposta de Jesus (43-44).
43. Respondeu Jesus e disse a eles. Não murrmureis
entre vós mesmos
44. Ninguém esta
podendo vir para mim se não o Pai que me enviou atrair ele, e eu levantarei ele
em o último dia.
Quanto
à questão dos judeus não foi feita nenhuma pergunta direta a Jesus, por isso, a
resposta que eles procuravam não poderia ser encontrada através daquele tipo de
crítica (vs.42). Aí Cristo entra na conversa, pois caso contrário eles não
chegariam à verdade[33]. Meyer vai
dizer que Jesus não entra na conversa deles para solucionar a dificuldade, mas
para admoestar que o problema deles mesmos não estava sobre isto[34], ou seja,
se ele era ou não o filho de José e Maria.
Os
judeus estavam em completa ignorância quanto à verdade mais profunda a respeito
da salvação, isto é: que o homem necessita da graça de Deus para crêr em Cristo[35]. Barrett
comentando o verso 44 diz que os evangelhos sinóticos são tão enfáticos quanto
João dizendo que a salvação à parte da iniciativa de Deus é impossível[36]. O texto
mostra que a salvação é realizada por Deus, quando este atrai[37] o indivíduo
convencendo-o moralmente do seu pecado e necessidade do Messías, então ele
compreende quem é Cristo.
Cristo
é o enviado da parte do Pai e por isso, somente ele tem o poder de ressuscitar
o homem no último dia. No Novo Testamento, somente no quarto evangelho
encontra-se a expressão “último dia” (vs. 39, 40, 44, 54). João coloca uma
grande enfase no presente da salvação e do juízo[38]. Aqueles
que são atraídos para Cristo e creêm que ele é o enviado de Deus serão ressuscitados
para a eternidade[39]. Carso diz
que Cristo exerce essa atração como um cortejo irresistível de um apaixonado[40].
É
importante lembrar que os judeus acreditavam na ressureissão dos mortos, a
ponto de se ter uma crença entre eles de serem enterrados com as vestimentas,
sapatos e cajado na mão esperando que o Messias viesse bucá-los[41]. Os judeus tinham a expectativa da ressurreição dos
mortos na vinda do Messias[42].
- Ouvindo a Deus e indo a Cristo.
45. Está escrito em os profetas: e
serão todos ensinados por Deus. Todo aquele que ouve da parte do Pai e aprende
está vindo para mim.
46.
Não que o Pai foi visto por alguém a menos o que é da parte de Deus, este conhece o Pai.
Após Jesus afirmar que ninguém pode
ir até ele se o Pai não o atrair é inserido no texto uma citação do Antigo
Testamento. Para se compreender então
esta passem é preciso voltar os olhos para o texto de Isaías 54.13. Aqui
provavelmente João está usando o texto da Septuaginta[43].
Em Isaías o assunto tratado é a restauração de Jerusalém.
A passagem “serão todos ensinados por Deus” é
aplicada tipologicamente: no Novo Testamento, à comunidade messiânica e a
aurora do reino de salvação de Deus são o cumprimento tipologico da restauração
de Jerusalém após o exílio da Babilônia[44].
Intrepretando a passagem Hendriksen vai dizer que não é
colocado de modo algum na mão do homem o poder de aceitar a Jesus como Senhor.
A passagem trata de algo maior que um simples progresso intelectual ou
influência moral, é uma transformação de toda a personalidade[45]. “Aqueles a quem Deus ilumina sobre identidade de Jesus
irá acreditar nele. E que a iluminação vem em primeiro lugar através das
Escrituras, como principal instrumento de Deus”[46].
Quanto ao verso que diz
“ninguem viu a Deus…” embora pareça desconesço, pois tem algumas
características de comentário do evangelista[47], todavia existe uma ligação
profunda com o verso anterior[48]. Jesus é o único que viu Deus plenamente (cf. 1:18). Ele é o
único mediador desse conhecimento de Deus sem o qual ninguém pode conhecer Deus. Deus ensina
as pessoas sobre Ele através de Jesus. Ouvir
Jesus, então, torna-se essencial para a aprendizagem de Deus. Deus chama
os eleitos a Si mesmo, revelando-se através de Jesus. As Escrituras testemunham
que a revelação é Cristo.
Ladd diz que a relação entre
o Pai e o Filho está intimamente entrelaçada em toda argumentação do evangelho.
Jesus possui conhecimento exclusivo e imediato do Pai, assim este conhecimento
está em contraste com a ignorância dos demais homens neste mesmo respeito[49].
- Estar em Cristo – certeza de vida eterna.
47. Em verdade em verdade estou dizendo a vós, aquele que crê está tendo
vida eterna.
A
palavra ἀμὴν - é derivada da palavra hebraica - אָמֵן – que
significa firme, fiel, certo, verdadeiro. Ela é uma particula tanto de
afirmação quanto de assentimento, na verdade, verdadeiramente, certamente; que
assim seja ou então como, O amém, a testemunha fiel e verdadeira no Apocalipse
3.14[50].
As palavras “amém, amém”
são pronunciadas com um senso de autoridade que é derivada da posição que
unicamente Cristo ocupa[51]. J. C. Ryle
vai dizer que por certo Cristo retomou o fio do discurso interrompido no verso
40. Daqui em diante passou a falar de si abertamente, sem figura retórica,
abertamente como objeto da fé[52].
Aqueles que creêm em
Cristo no mesmo momento têm vida eterna como posse imediata. O tema de João é a
fé em Jesus Cristo. Tudo corrobora para isto, e como dádiva da graça revelada
na pessoa de Cristo o prêmio é a vida eterna. Vida eterna aqui retém um caráter
escatológico, por que está inserida logo após a expressão último dia, todavia,
é possível que vida eterna seja uma experiência presente da vida futura[53].
Mensagem para a época da escrita
Como se pode observar na passagem em análise Cristo conduz o povo
através dos milagres à buscá-lo. Todavia, Ele não quer seguidores que o servem
visando interesses pessoais, fome ou curas. Como no passado, em especifico no deserto,
o povo caminhava por causa de alimento passageiro e se este faltasse o povo
começava a murrmurar.
Cristo então diz que eles não compreenderam a mensagem porque
semelhante ao deserto Deus não quisera conduzí-los a nova terra, isto é ao
conhecimento de Cristo como Messías.
Este conhecimento seria aplicado aos corações daqueles que o
Senhor por sua infinta graça falasse ao coração. Como promessa para seu povo
restaurar a nação e fazê-los triunfar diante do inimigo, Jesus, o Messías
prometido conduziria seu povo à vida eterna. Promessa que somente Ele poderia
cumprir porque de fato conhece a Deus face-a-face.
Tal conhecimento era elevado demais para o povo que o buscava para
alimentar-se somente e despresado pelos judeus mais eruditos, por isso Cristo,
como Senhor da vida, pronuncia que aqueles que esparam nele tem como posse hoje
da benção futura, isto é, a vida eterna. Cristo com poder ressucitará seu povo
que com Ele reinarão. Compreenderão plenamente que o Messías esperado é a
expressão exata de Deus.
Mensagem para todas as épocas.
A mensagem para todas as épocas é que Jesus é o Messías
prometido, mas este conhecimento só pode ser adquirido se o Pai que o enviou
quiser revelá-lo. Este conhecimento será aplicado diretamente nos corações de
seus seguidores. Estes virão até Ele e se prostrarão em adoração.
Uma vez conhecendo a Cristo como
Senhor e Salvador têm a segurança da certeza da vida eterna, algo que só é
aplicado verdadeiramente no coração daqueles que reconheceram Cristo como o
enviado de Deus, Jesus como Messías.
Este partilhar desta convicção trará
a certeza da vida eterna e a promessa de uma ressureição vindoura, onde de fato
estaremos com nosso Senhor Jesus por toda eternidade juntos no dia do juízo.
“Para o crente, o Jesus concede a visão de Deus que ele mesmo tem de maneira
direta e constante; e com a visão de Deus vem a vida eterna”[54].
Teologia do Texto
Este texto trabalha algumas doutrinas importantíssimas
para a fé cristã. Dentre elas está a doutrina da soberania de Deus na predestinação.
Escatologia – “eu o ressucitarei no último dia”. Doutrina da
trindade – “serão ensinados por Deus”. Soteriologia – “quem crê em mim tem a
vida eterna”.
Sproul falando sobre a doutrina da soberania de Deus na predestinação
diz que um dos ensinamentos mais importantes de Jesus sobre este
assunto é encontrado no Evangelho de João. “Ninguém poderá vir a mim…” A
palavra "ninguém" é completamente inclusiva. Não permite nenhuma
exceção além das exceções que Jesus acrescenta. Nenhum ser humano tem a possibilidade
de poder vir a Cristo a menos que aconteça alguma coisa que torne possível que
ele venha. Essa condição necessária que Jesus declara é que "seja atraído
pelo Pai". Jesus está dizendo aqui que a capacidade de vir a Ele é um
dom de Deus. O homem não tem capacidade em si mesmo e de si mesmo para vir a Cristo. Deus precisa fazer alguma
coisa antes[55].
Escatologia – “eu o ressuscitarei no último dia”. Esta visão
escatologica é aplicada nos corações dos crentes: que o Senhor é aquele que tem
todo o poder sobre a vida e a morte. Jesus nos assegura que seremos
ressuscitados com ele no último dia e isto é o dia da consumação final[56].
Doutrina da trindade – “serão ensinados por Deus”. Cristo mostra
sua intimidade com Deus vendo-o face-a-face. Mostrando que Ele é o cumprimento
da promessa do Messías. O Pai envia o Filho, o Filho tem sua obra confirmada e
aplicada nos corações pelo Espírito Santo. O Espírito Santo nos convenceria do
pecado e do juízo, nos mostraria que Cristo é o cumprimento do Antigo
Testamento.
Soteriologia – “quem crê em mim tem a vida eterna”. Somente em
Cristo se tem a vida eterna. O Pai conduz o homem a esta verdade em Cristo que
é o único meio de se alcançar a vida eterna. No evangelho de João ele diz: eu
sou o caminho, a verdade e a vida. Niguém vem ao Pai se não por mim. Agora ele
esta dizendo que ele é a vida e niguém vai até ele se o Pai não o levar. Ou
seja, salvação somente em mim.
Esboço homilético
Título do
sermão: A salvação em Cristo.
Tema: A
salvação em Cristo é uma escolha de Deus, aplicada pelo Espírito nos dando a
certeza de vida eterna.
Doutrina:
soteriologia
Necessidade:
o crente precisa enteder que a salvação em Cristo é operada em nossos corações
porque Deus agiu em misericórdia para conosco.
Imagem: 5 e estando nós mortos em nossos
delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, -- pela graça sois salvos, 6
e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares
celestiais em Cristo Jesus; 7 para mostrar, nos séculos vindouros, a
suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus. 8
Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de
Deus; 9 não de obras, para que ninguém se glorie.
(Ef 2:5-9 ARA)
Objetivo: quero dar a certeza e
segurança para o crente da sua salvação.
Introdução
I.
A
Imagem citada acima
II.
Idéia
central do Livro de João
III.
João
conduzindo o contexto da passagem até Cristo
IV.
Como
somos salvos?
V.
O
texto nos mostra a salvação em Cristo.
VI.
Como
é isto?
Pontos e sub-pontos.
I.
É uma escolha de Deus.
a. Ninguém pode vir
b. Se o pai não o atrair.
II.
É uma aplicação do Espirito
no coração.
a. Serão ensinados por Deus.
i. A promessa do Espírito Santo.
ii. Sua obra e atuação.
b. Ouvem a voz
c. Dele aprendem
d.
Seguem
a Jesus
III.
É uma certeza de vida
eterna.
a. Aquele que crê tem a vida eterna.
b. Eu o ressuscitarei no último dia.
Conclusão
I.
Deus
enviou a Cristo.
II.
Deus
nos chamou a Cristo pelo espirito.
III.
Deus
nos deu a certeza da salvação.
Aplicação
I.
Louvemos
ao Senhor por nossa salvação
II.
Vivamos
com afinco sabendo que a Salvação em Cristo nos foi garantida.
III.
Por
mais tribulação que passemos aqui estaremos seguros em Cristo por que foi Deus
quem nos conduziu até Ele.
Conclusão
Neste trabaho observamos que João mostrou que Deus é
soberano para salvar e que ninguém obtem esta salvação se não por meio desta
escolha livre.
Vimos que esta escolha de Deus implica que o Espírito
Santo atuará nos coração do indivíduo transformando-o e ensinando-o as verdades
acerca de Cristo como Salvador e Senhor. O Espírito faz ouvir a voz de Deus,
aprender dele e seguem a Cristo.
Estar em Cristo assume agora um significa muito especial,
pois implica certeza da vida eterna e a promesse de estarmos com Ele no último
dia, sendo ressuscitados para sua glória e louvor.
Por fim, esta passagem nos ensina nossa salvação como um
privilégio recebido da parte de Deus. Não buscado e escolhido pelo homem, mas
de graça aplicado a nós somente na pessoa de Cristo.
[1] CARSON, D. A., Douglas J. Moo, Leon Morris. Introdução ao Novo Testamento. Vida Nova, São
Paulo, 1997, p. 179.
[2] HÖSTER, Gerhard.
Introdução e Síntese do Novo Testamento.
Esperança, Curitiba, 1996, p. 52.
[3] CARSON, D. A.,
Douglas J. Moo, Leon Morris. Introdução
ao Novo Testamento. Vida Nova, São Paulo, 1997, pp. 179 – 181.
[4] VIELHAUER,
Philipp. História da Literatura Cristã Primitiva.
Academia Cristã, Santo André,2005, 473 – 478.
[5] HÖSTER,
Gerhard. Introdução e Síntese do Novo
Testamento. Esperança, Curitiba, 1996, pp. 52 – 53.
[6] Grifos meus.
[7] CHAMPLIM, R. N.
Enciclopédia de Bíblia, Teologia e
Filosofia – vol. 3. Candeia, São Paulo, 1991, p. 526
[8] “Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; e
vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai,
sem dinheiro e sem preço, vinho e leite”. (Isa 55:1 ARA)
[10] CARSON, D. A. O comentário de João. Shedd
Publicações, São Paulo, 2007, p. 290
e 281.
[11] JEFFERY, Peter.
De piedra em piedra. El Estandarte
de la Verdad.
Barcelona , 2000, p. 38
[12] ALLEN, Clifton
J. Comentário Bíblico Broadman – Vol. 9.
JUERP, Rio de Janeiro, 1983, p. 319.
[13] CHAMPLIM, R. N.
O Novo Testamento Interpretado – Vol. II.
Milenium, São Paulo,1979, p. 354.
[14] HENDRIKSEN,
William. Comentário de João. Editora Cultura Cristã, São Paulo,
2004, p. 285
[15] HARRISON, Everett F. Introdution to the New Testament. Eerdmans publishing, Grand Rapids , 2ª Ed.
1974, p. 211
[16] HENDRIKSEN,
William. Comentário de João. Editora Cultura Cristã, São Paulo,
2004, p. 284.
[17] Ibid, p. 285.
[18] DARBY, J. N. Estudos sobre a palavra de Deus: Lucas e
João. Depósito de literatura Cristã, Lisboa, 1986, p. 184.
[19] MEYER, Heinrich A. W. Hand-book to the Gospel of John. Funk & Wagnalis , New York ,
1884, p. 202
[20] VANDERWAAL, Cornelis. Search the Scriptures – 8 John - Romans. Paideia Press, St. Catharines , Ontario ,
Canada , 1978,
p. 28.
[21] CARSON, Beale &. Commentary on the New Testament Use of the Old Testament. Bake Academic,
Grand Rapids, 2007, p. 445
[22] BRUCE, F. F. João – introdução e comentário. Mundo
Cristão, São Paulo, 1987, p. 140 – 141.
[23] HENDRIKSEN,
William. Comentário de João. Editora Cultura Cristã, São Paulo,
2004, p. 304. Mashal é um dito paradoxal, um comentário velado e contundente,
frequentemente na forma de enigma (pp. 169-170).
[24] GILL, John. Exposition
of the Old & New Testament – Vol. 7: Matthew to John. Paris, The
Baptist Standard Bearer, 1989, p. 818.
[25] VIEIRA, Edival
José. Exegese de Jo. 1.1-14.
Seminário Presbiteriano Conservador, Riacho Grande, 2002, pp. 13-14, “obra não
publicada”.
[26] HALE, Broadus
David. Introdução ao Estudo do Novo
Testamento. JUERP, Rio de Janeiro, 3ª Ed. 1989, p. 155.
[27]
Este verbo esta no presente do imperativo ativo e é usado com negativo para
fezer cessar uma ação em andamento cf. CHOWN, Gordon, Júlio P. T. Zabatiero. Chave lingüística do Novo Testamento Grego.
Vida Nova, São Paulo, 1985, p. 172. Aqui eu opto por traduzir como a Bíblia de
Jerusalém (BJ) e a Almeida Revista e Atualidada (ARA) por murmurar.
[28]
Aqui opto por traduzir como a BJ, pois o verbo - ἕλκω - tem
o sentido de trazer, atrair, isso mental e moralmente. MOULTON, Harold K. Léxico Grego Analítico. Cultura Cristã,
São Paulo, 2007, p. 141
[29]
Aqui eu sigo a tradução da ARA por entender que a idéia expressa pelo genitivo
transmite sua origem. A Bíblia na Linguagem de Hoje diz “…quem aprendem com ele
[Deus]”.
[30]
Seguindo Moulton que o verbo no particípio transmite a ideia de existência,
ser, existir e estar. Opto por divergir das BJ, ARA e BLH que traduzem: “aquele
que vem”. A tradução que opto também pode ser vista em: http://interlinearbible.org/john/6.htm
Acesso: 10/05/2010.
[31] Aqui é
uma particula asseverativa, todavia sigo a tradução natural da palavra
divergindo assim das traduções BJ, ARA e NVI. REGA, Lourenço S., Johannes
Bergmann. Noções do Grego Bíblico.
Vida Nova, São Paulo, 2004, p. 221
[32]
Aqui se pode entender a estrutura com base no contexto proxímo de João 6
todavia, exite a possibilidade de se dividir o texto inteiro do Evangelho, que
obedeceria outra ordem de analisar os quiásmos no livro. Quanto a isto conferir: ELLIS,
Peter F. Inclusion, Chiasm, and the
Division of the Fourth Gospel. St Vladmir’s Theologycal Quarterly, January 1, 1999, pp. 259-338
[33]
BRUCE, F. F. João – introdução e
comentário. Mundo Cristão, São Paulo, 1987, p. 141
[34] MEYER, Heinrich A. W. Hand-book to the Gospel of John. Funk
& Wagnalis, New York, 1884, p. 210
[35]
RYLE, J. C. Juan: los evangelios
explicados. CLIE,
Barcelona, 1977, 122.
[36] BARRETT, C. K. The Gospel according to St John: an introduction with commentary and
nots on the greek text. The Macmillan Company, New York, 1955, p. 245.
[37]
MOULTON, Harold K. Léxico Grego
Analítico. Cultura Cristã, São Paulo, 2007, p. 141. ἕλκω - tem o sentido de
trazer, atrair, isso mental e moralmente. Ele é usado somente por João.
[38] MORRIS, Leon. Expository Reflections on the Gospel of John. Baker, Grand Rapids,
1990, p. 232
[39] PHILLIPS, John. Exploring the Gospels: John. Loizeaux
Brothers, New Jersey, 1989, p. 131
[41]
CHAMPLIM, R. N. O Novo Testamento
Interpretado – Vol. II. Milenium, São Paulo,1979, p. 362.
[42] GILL, John. Exposition
of the Old & New Testament – Vol. 7: Matthew to John. Paris, The
Baptist Standard Bearer, 1989, p. 818.
[43] BARRETT, C. K. The Gospel according to St John: an
introduction with commentary and nots on the greek text. The Macmillan
Company, New York, 1955, p. 245.
[45]
HENDRIKSEN, Guilhermo. El evangelio
segun San Juan: comentario del Nuevo Testamento. Subcomision Literatura
Cristiana, Grand Rapids, 1981, p. 254
[46] CONSTABLE, Thomas L. Notes on John.
Edition 2010, p. 109. Cf. http://www.soniclight.com/constable/notes/pdf/john.pdf
acesso: 15/05/2010.
[47]
BRUCE, F. F. João – introdução e
comentário. Mundo Cristão, São Paulo, 1987, p. 142
[49]
LADD, George Eldon. Teologia do Novo
Testamento. Hagnos, São Paulo, 2001, p. 233
[50]
MOULTON, Harold K. Léxico Grego
Analítico. Cultura Cristã, São Paulo, 2007, p. 20.
[51] GODET, F. Commentary on the Gospel
of St. John: with a critical Introduction – vol. II. T. & T. Clark,
Edinburgh, 1980, p. 241
[52]
RYLE, J. C. Juan: los evangelios
explicados. CLIE, Barcelona, 1977, 123.
[53]
LADD, George Eldon. Teologia do Novo
Testamento. Hagnos, São Paulo, 2001, pp. 239-244
[54]
BRUCE, F. F. João – introdução e
comentário. Mundo Cristão, São Paulo, 1987.
[55] SPROUL,
R. C. Eleitos de Deus. Cultura
Cristã, São Paulo, 2ª ed. 2002, p50-53.
[56]
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática.
Cultura Cristã, São Paulo, 2ª ed. 2001, p. 648
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